domingo, 18 de setembro de 2011

Memórias das 07:15


'Acordei em desespero.
O coração pulsando, olhos arregalados no horizonte.
O relógio marcava 07:15 como na primeira manhã de inverno, juntos.
Era frio, mas insisti nos casacos, e fui ver o mar.
Na realidade, o que eu queria mesmo era ver a areia. A mais fina areia de uma praia já deserta.
Sem conchas e pedras, sem ninguém.
Sentia o vento forte se aproximando de meus cabelos grisalhos, mas desta vez ... desta única vez não me apavorei. Caminhei sem tirar os olhos do horizonte e meu corpo flutuando como bolhas de sabão.
Então, com todo aquele frio, minha alma sentia calor. O calor dos braços teus.
O fogo do teu coração junto ao meu corpo e aqueles seus olhos pequenos, sorrindo para os meus grandes e chorosos, logo acalmava minha alma.
Tirei meus casacos, em seguida meu corpo também sumiu, estava pura de vícios e matéria naquele instante.
Era apenas a mais pura e calma alma.
Caio de joelhos então, sobre a areia, minha areia. Areia que estava ainda quente, com marca de pés descalços.

Olhos abertos, redondos e imóveis. Não podia piscar!Não, não queria ver aquilo com os olhos da alma.
Minhas mãos estavam tão apertadas, um elo entre as suas, como pode...
Como pode?
Quis fechar meus olhos e voltar a ter cabelos escuros como a noite, as rugas sumiriam e tudo estaria bem como naquela manhã, ás 07:16.
Porém a praia estava fria naquele minuto, e o silencio me corroía como ácido na carne.
E, você assim como a praia, frio sublime.
Como a areia que dançava com a ventania, partiu,
Por entre os dedos de minhas mãos você se foi... não pude segurar seus pequenos grãos.'

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