sábado, 29 de junho de 2013

Mausoléu


"Se tu me tiveres por completo. 
E eu de ti uma fatia... prometes que ao fim tudo se desfaça?
Já sei, sou fumaça a esvaziar, seus pulmões de mágoas, seus pesares e pormenores.
Sei sim, sem remorsos dormes em paz.
Ah, voa então...Que eu me enterro
Mas não faz mal, sou seiva bruta
Nem toda flor é macia, nem todo amor é carnal
Ah, vá em frente...não faz mal
Que nem todo amor é real, nem todo homem animal, nem de toda boca punge fel
Ah, venha cá... e estás no céu
Sei bem que o inferno é aqui. Sei bem que bem tu me enterraste em frio mausoléu. 
Eu sei bem, não sou melhor que ninguém
Pra ti não valho um vintém
não me acho mais bela também
Mas força eu tenho! Mas forte eu sou!
Sou eu luz nas trevas, metade flor metade ferro eu sou."




domingo, 16 de junho de 2013

Escorregadio


Chove forte em casa.
Chove dentro de mim.
Chove que é pra lavar todo caos.
Chove Deus, e me leva pro ralo do fundo do mundo. 
Sou pura água, sem cor, sem cheiro, sem gosto... mas só eu sou vida. 
Me sinto vida invisível e quero escorrer.
Quero escorrer com pressa pra longe.
Quero ser sugada, pelo poço escorregadio do mundo.
Quero me esconder de baixo da terra aguada.
E de lá não ouvirão meus lamentos.
Quero ser adubo.
Não quero virar lodo grudado nos bueiros.
Quero escorrer tranquila.
Sem velas, sem choro.

sábado, 15 de junho de 2013

Murmúrios



Eu escrevo o que eu sinto, escrevo o que eu vivo, eu me escrevo.
Triste ou risonha, essa sou eu, agora. E não vou mentir.
Gosto de ser eu, de pensar eu, de escrever eu, de criar eu, de viver ou morrer eu.
É isso. 
E sou isso.
Sou por muito tempo triste, mas serei ainda muitas coisas.
Se escrevo é porque sou.
E escrever me liberta um pouco do pesar das minhas mágoas.
Me desculpe a quem importuno com meus murmúrios.
É que me perdi, estou tentando me reinventar, criar outra de mim. É o que os artistas fazem, não é. (?)
Se não é, sou eu, apenas, e não me importo.
Me sinto um grãozinho miúdo na multidão tentando mudar o mundo gigante, mas sou também um grão gigante tentando mudar esse mundinho de nada.

De grão em grão eu recrio o mundo
Ou ao menos o meu mundo
Ou ao menos eu.

Teu pesar



"É preciso olhar nos olhos 
que com tamanha coragem me enfeitiçaram 
e me enganaram durante tanto tempo.
E entregar as lágrimas 

que doem nos meus olhos.
E despejar todo esse peso 

que ele me deixou.
Todo o pesar que me afunda 

para o chão e além - chão.
É preciso entregar nas tuas mãos 

esse peso que sinto 
e que não pertence a mim."

Oração de uma filha em prantos

Deus, papai do céu tão querido!
Abre meu coração para uma vida nova.
Me encoraje diante do medo, me mostre por onde recomeçar, me tire das cinzas e guie meus passos hoje tão perdidos.
Mãe Maria, tão amada mãezinha!
Interceda por mim junto ao teu Santo filho Jesus, clareia minha alma tão escura, cheia de medo e rancor.
Apaga toda dor que carrego, toda a raiva e sentimento ruim.
Quero ser alguém melhor Mãezinha amada!
Quero ter o coração puro de novo.
Abençoa aqueles que oram com tanto zelo por mim.
Abençoa também aqueles que me fazem mal e cura a eles com teu Manto Sagrado.

Amo e confio em ti, meu Deus!
Amo e confio em ti, Jesus!
Amo e confio em ti, ó Virgem!

Amém.

Espinhos



"Quando criança, sonhava em ser flor. A vida furou-a com espinhos. Desistiu, então.
...
Desistiu das flores, das cores, dos risos e afins.
Plantou flor, colheu marfim.
Chorou dor, choveu forte em seu jardim.
Choveu pedra.
Como aquilo que hoje já não bate nem faz sangue em seu corpo.
A flor virou oco.

Não sorri, 
Mas para quê mostrar os dentes?
Lembrava quando era criança, sempre florida
Cresceu, e logo a vida lhe podou.
É espinho, dói. 

Doeu, agora congelou no tempo.
Desistiu até da dor."



Vago

É só mais um dia vazio.
Logo seguirei sem rumo, como tem que ser. (?)
Roubaram-me o rumo, roubaram-me a "coisa com sangue" que pulsava em mim.
Quem ficou presa fui eu.
Quem ficou livre também.
Não sei. Mas faz frio e estou só.

Maus bocados





"A vida parece, 
dos olhos meus
uma pequena bolha 
de sabão pelo ar 
que pode estourar 

A qualquer custo
a qualquer momento 
as custas do tempo, 
do teu caminhar 

Com os olhos cinzentos 
que agora são meus 
e que em acalanto 
escorrem meu pranto 
que corre em meu peito 
até me estourar. 

Meus olhos são breus 
no escuro do medo, 
do meu pesadelo 
só existe você 
que me trouxe pra cá, 
pra eu me afogar 

Mas eu que era clara 
de corpo e de alma 
cinzenta fiquei 
por teus maus bocados 
teu riso folgado 
as custas dos meus 

meus risos ficaram 
e os teus são tão claros 
que podem matar 
meus olhos gelados 
um tanto salgados de 
tanto chorar."